Velejador Lars Grael volta ao continente gelado cinco décadas depois de seu primeiro cruzeiro na região
Por Luísa Medeiros
Um cruzeiro em família, realizado há 50 anos, é a representação de memórias afetivas que marcaram a vida e a história de Lars Grael. Com apenas oito anos de idade, o velejador e medalhista olímpico percorreu a Antártica em um navio de cruzeiro espanhol – agora, cinco décadas depois, ele vai repetir a aventura a bordo do navio SH Vega.
A viagem “Carnaval na Antártica com Lars Grael” vai levar 150 hóspedes para percorrer a região durante 14 dias a bordo do luxuoso navio da companhia Swan Hellenic. Nesse período, além de reviver a navegação pela Antártica, o velejador vai poder compartilhar suas experiências de vida e relatos de navegação com outros cruzeiristas e aventureiros em eventos a bordo.
Às vésperas do embarque, Lars Grael falou sobre as memórias da viagem realizada em 1972, as expectativas para o cruzeiro atual e garantiu: é uma oportunidade única que não deve ser desperdiçada.
Uma aventura em família
Até onde vão as memórias mais remotas da infância? As de Lars Grael, certamente passam pela imensidão de gelo e mar da Antártica. Ele tinha apenas oito anos quando embarcou em uma grande aventura: sua primeira viagem em um grande navio. O menino, até então acostumado apenas aos barcos à vela, passaria dias a bordo do navio Cabo San Roque, da companhia Ibarra, para navegar desde Buenos Aires, na Argentina, passando por Ushuaia, por três bases na Antártica e alcançando as Ilhas Malvinas.
As fotos feitas pelo avô, um fotógrafo amador, ilustram as recordações que ficaram no imaginário de Lars. “O que ficou na memória é que é um mundo diferente, que nos torna pequenos quando olhamos aquela força hidráulica que é o mar, que muda de tamanho e de força conforme as mudanças abruptas de vento”, narra.
O navio era muito bom para os parâmetros da época e foi definido como “valente” pelo velejador. As memórias remetem aos sabores da excelente gastronomia servida a bordo e às horas gastas em torno da prática de shuffleboard, esporte que se popularizou nos convés de navios. “Criança se entretém facilmente. Nosso camarote não tinha nem vista para o mar, então a gente tinha que sair do quarto para poder ver aquela imagem maravilhosa daquele marzão. Desde os icebergs quando estávamos chegando no continente antártico, até a interação com os pinguins nas Ilhas Malvinas, tudo muito marcante”, conta.
As Malvinas (ou Falklands), foi um lugar que marcou muito o velejador. Ele lembra de quando desembarcaram em Port Stanley, um lugar onde podiam desfrutar de espaço para correr e se divertir. O estilo colonial britânico da cidade encantou o menino. A quantidade de neve, quando desceu do navio na Antártica, também ficou na memória. “Como é um habitat tão distinto daquele que nós nascemos e vivemos, quando a gente vê, é como se fosse outra dimensão, outro mundo”, lembra.
O retorno depois de cinco décadas
Desde 1972, Lars Grael nunca mais voltou à Antártica. Até teve uma oportunidade, em 2002, em um veleiro – mas compromissos profissionais, quando era Secretário Nacional de Esporte, o impediram de embarcar. “Até hoje eu lamento a oportunidade perdida, que pretendo compensar agora, nessa viagem com a Swan Hellenic”.
Voltar à Antártica, 50 anos depois, com condições de comunicação e registro mais avançados, é vista pelo atleta como uma oportunidade única. “A gente passa a ter a capacidade de compartilhar informações, dados, imagens, mostrando ao mundo aquilo que só quem está lá tem a dimensão do que realmente é”, comenta.
As bases internacionais na região, que eram bastante precárias em 1972, estão multiplicadas, além de mais modernas e bem estruturadas para enfrentar o clima hostil. As mudanças climáticas e seus efeitos nas geleiras podem até passar despercebidas aos olhos de viajantes leigos, mas estar na Antártica também tem o papel educativo de sensibilizar para a causa ambiental.
“Uma vez que a pessoa conhece a região, fica muito mais sensibilizada a pesquisar, a conhecer mais, a defender. A entender o quanto essa área remota do planeta tem um papel fundamental em nossas vidas em termos climáticos, impactando na sobrevivência das pessoas. É um ecossistema que precisa ser preservado, sob pena da gente mudar todo o ambiente do planeta”, afirma.
A imponência do SH Vega
Recentemente, Lars esteve a bordo do moderno navio SH Vega, em sua passagem pelo Rio de Janeiro. Ele pode conferir o conforto e grandiosidade da embarcação e teve a oportunidade de visitar a casa de máquinas. “Além de ser um navio novo, ele tem uma manutenção impecável. Não é comum um comandante de um navio levar as pessoas a conhecer a casa de máquinas – eles mostram e o fazem com orgulho porque é um lugar impecavelmente limpo. O nível de atenção para itens de segurança e manutenção chama muito atenção”.
O velejador destaca que o chief executive officer da Swan Hellenic, Andrea Zito, tem uma vida inteira dedicada aos mares, uma experiência que o faz olhar com atenção a itens de segurança e de navegação. “Fiquei muito bem impressionado com o domínio e o conhecimento que ele tem. Ele pensa em tudo com muita segurança e sistema de redundância em tudo, então se algo dá errado, outro sistema entra em operação”, conta. Para Lars, o SH Vega é um navio onde se pode dormir tranquilo e desfrutar da viagem.
Além disso, é um navio de luxo e moderno, com vistas para o mar muito especiais. “É possível até fazer sauna olhando aquele horizonte gélido e único na sua frente”, comenta Lars Grael. A relação de tripulante para passageiros de quase 1:1 também é um diferencial e mostra o tratamento exclusivo que eles dão a cada hóspede, com acolhimento. “Não é apenas estar em uma expedição para ver o continente antártico. É ver o continente antártico com toda aquela exuberância mas dentro de altos padrões de conforto e segurança”, acrescenta.
Lars Grael, que é acostumado aos barcos à vela, afirma que a experiência em viajar em um navio como o SH Vega certamente é inigualável. “Viajar em um navio de cruzeiro aproxima as pessoas do mar e também aproxima as pessoas das próprias pessoas”, diz, afirmando que cria-se muito facilmente um ambiente de amizade e troca entre cruzeiristas.
“Nada substitui estar lá”
O velejador Lars Grael avalia a oportunidade de fazer uma expedição pelo continente antártico como imperdível. “Falo isso como uma pessoa que já teve a experiência de fazer, mesmo na minha infância, e como isso foi marcante para toda a minha vida”, afirma. Ele garante que por melhores que sejam as imagens e os relatos de quem esteve na região, nada substitui a experiência de estar lá. “É uma chance, na vida, que a gente não pode deixar passar, porque você não sabe quantas outras vezes surgirão oportunidades como essa”, comenta.
Para saber mais detalhes da expedição e do navio SH Vega, confira a matéria completa aqui no site Krooze.