Webinar promovido pela PUC-Rio traz informações importantes para quem deseja construir sua carreira na indústria de cruzeiros
Por Fernanda Corrêa
Interessados em trabalhar em cruzeiros agora têm acesso a informações atualizadas sobre o setor. A PUC-Rio promoveu, no dia 19 de julho, um webinar sobre a construção de carreiras na indústria de cruzeiros. A iniciativa teve como objetivo mostrar as oportunidades de trabalho tanto em terra como a bordo, no setor que mais cresce no turismo mundial.
Dessa forma, duas profissionais conduziram apresentações com dicas e informações relevantes. Primeiramente, a professora e pesquisadora de cruzeiros desde a década de 1980, Telma Brito, abordou as oportunidades de carreiras em terra. Em seguida, Carla Sciarri, com 15 anos de carreira na companhia marítima Cunard, deu ênfase nas oportunidades de construção de carreira a bordo dos navios.
Características da operação de um navio de cruzeiro
Antes de discorrer sobre as oportunidades de carreira em terra, a professora e pesquisadora Telma Brito, apresentou um panorama das principais características da operação de um navio de cruzeiro. “Este é um setor robusto que atua mundialmente, envolvendo uma extensa cadeia produtiva, diferentes profissionais e áreas de atuação”, iniciou. Acompanhe aqui:
- Muito antes de um cruzeiro ser realizado, diversas etapas de logística e operação acontecem. A primeira é a construção do próprio navio. Possui duração entre 2 e 3 anos, envolvendo desde o projeto de engenharia até a decoração dos interiores. Na sequência, entra uma extensa cadeira produtiva com milhares de profissionais, a bordo e em terra. Inclui, por exemplo, desde profissionais de Direito para atuar na área de regulação internacional e nacional; até responsáveis por definir os destinos e itinerários, ou seja, portos de embarque, desembarque e de escala.
- Uma particularidade comercial dos cruzeiros é que a venda das cabines já começa durante a construção. Outra característica: um navio de cruzeiro não é apenas um meio de transporte mas, antes de tudo, é um hotel flutuante. Reúne todos os serviços do setor de turismo em um único espaço, desde hospedagem, alimentação, entretenimento e serviços culturais, por exemplo, além dos destinos envolvidos no itinerário.
- Alguns navios maiores são considerados como verdadeiros resorts, sendo até comparados a parque aquáticos flutuantes. Um fenômeno recente é que, nesse sentido, o navio tornou-se o atrativo principal da viagem, tanto pelo entretenimento como pela animação que oferece.
- Muito importante não só para quem vai trabalhar a bordo, mas também para quem vai viajar, é saber que, ao embarcar num navio de cruzeiros, você está realizando uma viagem internacional. Mesmo quando o embarque é realizado no Brasil, o território de navegação de um navio é internacional.
Dados sobre o setor de cruzeiros
Para ilustrar a importância da indústria de cruzeiros marítimos, Telma Brito trouxe alguns dados recentes da CLIA (Cruise Lines International Association), representada no Brasil pela CLIA Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos):
- O setor de cruzeiros é um dos que mais cresceu no turismo mundial nos últimos 10 anos, com exceção do período pandêmico. Como resultado, em 2023 espera-se 31 milhões de passageiros viajando de navio em todo o mundo.
- No Brasil, espera-se que a temporada 2023/2024 ultrapasse os 800 mil passageiros, um crescimento de 7% em relação à temporada anterior. Entre outubro de 2023 e maio de 2024, oito navios com saídas regulares estarão na costa brasileira, além dos navios em trânsito. Somente o porto de Santos receberá cerca de 13 navios na próxima temporada. Todo esse movimento poderá gerar até 48 mil empregos diretos e indiretos, além de 4 bilhões de reais na economia do país.
Aonde buscar oportunidades em terra
Segundo mapeamento realizado por Telma Brito, há diversas oportunidades em terra relacionadas a cruzeiros, para quem deseja atuar neste segmento. Confira aqui:
- Nas companhias marítimas com escritórios no Brasil: a MSC Cruzeiros, a Costa Cruzeiros e a Norwegian Cruise Line. No mercado brasileiro, eles são responsáveis pela promoção, marketing e vendas dos cruzeiros, além das reservas. Quando os navios chegam ao Brasil, também estão envolvidos na logística da operação.
- Nas empresas representantes de companhias marítimas com navios em outros países, principalmente no hemisfério norte, Europa e Estados Unidos. Fazem as vendas, reservas e buscam profissionais com interesse nesta área.
- Nos canais de comercialização e distribuição das companhias marítimas, ou seja, nas operadoras e agências de turismo. Há demanda por profissionais que entendam sobre os diferentes perfis de viajantes oferecendo, desta forma, os navios e destinos mais adequados. Muitas agências possuem setores exclusivos para venda de cruzeiros, ou alocam profissionais para desenvolver este departamento.
- Nas empresas organizadoras de eventos, nas produtoras de espetáculos e até nas empresas de comunicação e jornalísticas. Entretanto, é necessário que conheçam as características e a estrutura de um navio para realizar eventos especiais a bordo. Entre eles estão os cruzeiros temáticos, em crescimento no Brasil, além de congressos, lançamentos ou comemorações especiais como casamentos e aniversários.
- Ainda há oportunidades nas empresas de transporte, pois são necessárias para o hóspede chegar até o local do embarque – seja aéreo, rodoviário ou ferroviário.
- Nos portos é necessária uma estrutura e logística para receber os turistas do navio. Por exemplo, os receptivos locais são muito importantes nas escalas onde os navios atracam. Também é necessário organizar a chegada de uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo.
- Na carreira acadêmica também há oportunidade de desenvolver pesquisas sobre cruzeiros. Ainda são escassas, principalmente nas abordagens de relações humanas e sociais. Normalmente tratam de aspectos econômicos, marketing e sustentabilidade, e hoje estão concentradas nos EUA e na China.
O que motiva uma carreira a bordo?
Durante a segunda sessão do webinar, Carla Sciarri mostrou oportunidades de carreira a bordo. A profissional trabalha desde 2008 na Cunard, empresa marítima britânica. Atualmente, exerce o cargo de gerente de serviços ao cliente a bordo do navio Queen Mary 2, sendo responsável por 100 tripulantes.
Sobre o tempo na empresa, comentou: “Muitos tripulantes trabalham por décadas na Cunard – 20, 30 e 40 anos. Da mesma forma que uma companhia busca que seus passageiros sejam fiéis, também buscam que tripulantes sejam fiéis e construam sua vida a bordo.”
Seu primeiro trabalho na companhia foi como garçonete e, inicialmente, não pensava em seguir uma carreira na indústria de cruzeiros. Entretanto, descobriu que gostava de servir e de lidar com os passageiros. Aliás, essas são características essenciais de quem trabalha a bordo. Além disso, ao voltar para casa depois de cumprir seus contratos, comparava o cruzeiro com as oportunidades do setor hoteleiro, em terra. Sobre esse momento, comenta:
“Eu sempre voltava para o navio! As oportunidades de viajar, conhecer novos lugares eram sempre mais vantajosas para mim. Sempre que voltava para o navio, eu queria me dedicar mais, dava o máximo em tudo que fazia. Fui, então, crescendo dessa forma. Evolui para cargos como recepcionista e conciérge, até alcançar os cargos de gerência de recepção, bem como do setor de tripulantes.”
Carla Sciarri concluiu dizendo que a indústria de cruzeiros oferece oportunidades para ganhar dinheiro e para economizar. Entretanto, se as pessoas souberem aproveitar novas oportunidades, podem também construir uma carreira mais duradoura.
Onde estão as oportunidades dentro de um navio?
Durante sua apresentação, Carla Sciarri citou quais são as principais áreas de atuação em um navio de cruzeiro. A primeira, e uma das maiores, é a área de Alimentos e Bebidas. Ela inclui restaurante, bar, cozinha e também profissões mais especializadas como sommeliers (especialista em vinhos). A segunda, também importante em tamanho, é a Governança, ou housekeeping – que envolve os camareiros, mordomos, supervisores e até gerência.
Em seguida está a área de relação com os hóspedes, ou serviço ao cliente. Ainda existem muitas funções dentro da área de Hotelaria, tais como recepção, eventos, comunicação e financeiro. A área de entretenimento também tem muitas oportunidades, inclusive em animação. Finalmente, existem cargos na área comercial. São responsáveis por oferecer produtos e serviços dentro do navio que não estão incluídos na tarifa do cruzeiro, tais como spa, cassino, fotografia e lojas.
Como são divididas as posições de trabalho
Importante saber que, dentro de cada área, existem categorias para as posições de trabalho a bordo do navio. As posições de entrada são classificadas como crew (ou tripulante) e são funções que assistem outros departamentos, tais como garçons, assistentes de cozinha e camareiros. Em seguida vem as posições de staff que são os músicos, dançarinos, os tripulantes de área comercial – que trabalham no shopping, no spa. Fazem parte, também, recepcionistas, supervisores de bar e garçons sênior. Por fim, existem os oficiais que ocupam as gerencias de áreas e o comando dos navios.
O navio Queen Mary 2 possui 1.200 tripulantes. Cerca de 70% da tripulação ocupa a posição de crew (tripulante), enquanto 20% compõe o staff e 10% são oficiais. Segundo a profissional, normalmente as pessoas começam como crew e evoluem até onde quiserem chegar.
Qual a faixa salarial
“Falar sobre abrangência salarial é importante para ter uma ideia da realidade”, destacou Carla. Os salários podem variar entre as companhias, entretanto, um cargo de entrada oferece salários entre 600 a 1.500 dólares. Já um cargo médio como, por exemplo, de recepcionista, varia entre 1.500 e 2.500 dólares. Por fim, os salários dos oficiais, dependendo do nível de senioridade, variam entre 2.500 até 8 mil dólares, ou mais.
Apesar de atraente, os salários flutuam de acordo com a cotação da moeda. Segundo a profissional, não deve ser o único motivo para trabalhar a bordo. Ela comenta: “O mais interessante é pensar em construir uma carreira e expandir.”
Os contratos são por temporada, sem vínculo empregatício como conhecemos no Brasil (não tem 13º e férias, por exemplo) e, nos meses entre um contrato e outro, o tripulante não recebe salário.
Novas oportunidades, novas responsabilidades
Algumas funções que a Carla exerceu, como gerente de administração ou gerente da tripulação, envolviam tarefas mais complexas. Entre elas, saber tudo sobre a legislação imigratória dos países visitados durante um cruzeiro de volta ao mundo.
Era responsabilidade da Carla, por exemplo, saber o que seria exigido em cada porto, tais como vistos, vacinas, alfândega, tanto dos tripulantes como dos passageiros. “Uma carreira a bordo sempre tem desafios e acaba atraindo as pessoas porque é estimulante. Você tem que assegurar a segurança de todos, na entrada e na saída do porto. Entretanto, nada do que eu fazia a bordo funcionava sem o trabalho conjunto com agentes portuários, excursões em terra, todos trabalham juntos.”
Desafios atuais da indústria
A indústria continua crescendo exponencialmente. Desde a pandemia, explicou Carla, a demanda por mão de obra qualificada vem aumentando, pois muitos tripulantes experientes mudaram de ramo. Outra questão é diminuir a rotatividade. Muitas pessoas foram trabalhar a bordo sem saber o que iriam encontrar e acabaram desistindo depois do primeiro contrato.
Portanto, é necessário instrução especifica sobre o que encontrar bordo, para uma maior retenção de profissionais, juntamente com um serviço de excelência para os passageiros. Desta forma, nessa carreira é importante conhecer a operação como um todo, pois os departamentos trabalham juntos, em equipe.
Por que trabalhar em um navio?
A profissional Carla Sciarri destacou cinco vantagens de trabalhar em um navio de cruzeiros:
- A oportunidade de viajar é única, ela conheceu 60 países. Mas vem atrelada a muito trabalho! “Você trabalha uma média de 10 horas por dia, 7 dias por semana. Isso durante 6, 7 ou 8 meses, dependendo da duração do seu contrato”, comenta.
- A experiência multicultural é outra vantagem, interagir com pessoas de diferentes nacionalidades e origens, amplia muito seus horizontes.
- Ambiente dinâmico que traz desafios constantes. Se aproveitar a oportunidade, poderá desenvolver habilidades como liderança, gestão, resolução de problema e trabalho em equipe, entre outras.
- Reduzir suas despesas pessoais tais como alimentação, acomodação e despesa médica, pois tudo está coberto no contrato, portanto, você consegue economizar mais a bordo.
- Trabalha em uma indústria global, com networking que poderá abrir portas em outras áreas de hospitalidade e turismo.
Qual perfil para trabalhar em um navio
A bordo existe hierarquia de posições, muito treinamento, regras e regulamentos a serem seguidos. Então, disciplina é um fator muito importante para quem vai trabalhar em um cruzeiro. É fundamental ter resiliência, tolerância ao próximo e capacidade de se distanciar da sua família e amigos. Além disso, ter empatia, responsabilidade com sua saúde e com o meio ambiente.
O inglês com certeza é essencial, principalmente a habilidade de conversação. Assim, a pessoa consegue se comunicar bem, mas também compreender bem. “Entretanto, o seu inglês vai se adaptar ao ambiente internacional, pois existem termos e palavras especificas, bem como sotaques diferentes”, comentou.
Requisitos básicos: ter idade mínima entre 18 a 21 anos; inglês, sendo que outros idiomas também são vantagem; passaporte; visto americano de tripulante (dependendo da empresa e itinerário); curso básico de segurança (em alguns casos); exame médico específico, de acordo com recomendações da empresa contratante; vacinação (Covid, Febre Amarela, entre outras); pode existir restrições de piercing e tatuagens, algumas empresas não permitem tatuagens no rosto, mas depende da cultura de cada uma.
Existe também a parte divertida: festas, amizades, entretenimento para tripulantes, passeios e excursões. Nem todas empresas de cruzeiros exigem recrutamento por agência, mas permitem ir no site ou divulgam seu recruitment day em mídias sociais.
Dicas finais
- “Para atuar com cruzeiros, a preparação do profissional vai além do operacional. Nesse sentido, é necessário entender o panorama mundial dos cruzeiros, conhecer as companhias, interpretar a ficha técnica de um navio para recomendar a cabine. Além disso, conhecer tipologia de cabines, entender quais são os documentos necessários para a viagem, portanto, adquirir uma visão ampla”, compartilhou Telma Brito.
- “Procure informações para entender esse ambiente multicultural de um navio pois, mesmo que ele esteja navegando no Brasil, a tripulação não será 100% brasileira. Para entrar, ter ensino superior é uma vantagem, especialmente em turismo e hotelaria”, finalizou Telma.
- “Meu conselho é sempre fazer uma pesquisa, buscar informação. Faz toda diferença chegar a bordo e saber o que esperar. Por isso a importância de conhecer a indústria como um todo”, disse Carla Sciarri.
- “A vida no mar é o que você faz dela, pode ser fácil ou difícil, depende de como vê”, conclui Carla.
Curso de Extensão – “A Indústria de Cruzeiros Marítimos”
O webinar, que contou com mediação da professora Ana Lúcia Rodrigues da Silva, faz parte da divulgação do tema abordado no curso de extensão “A Indústria de Cruzeiros Marítimos”, promovido pela PUC-Rio, com coordenação do professor Reinaldo Castro Souza. O curso online será ao vivo, com uma carga de 32 horas, entre 12 de agosto e 07 de outubro de 2023.
O curso é composto por sete matérias: Visão da indústria; Infraestrutura e Logística (navios, portos e toda cadeia); Destinos e receptivos turísticos; Regulação, Normas e Regras; Diferentes características e tipologia dos passageiros (companhias, navios e itinerários); Requisitos e Boas Praticas pra trabalhar (habilidades para a carreira); Mitos e Realidades.
Para mais informações, acesso o site aqui
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