Com participação de 200 convidados, evento debateu sobre os desafios e oportunidades do setor de cruzeiros no Brasil
Por Fernanda Corrêa
O auditório do Ministério do Turismo em Brasília foi palco do 4º Fórum CLIA Brasil 2022, realizado quarta-feira (14), sob a condução de Marco Ferraz, presidente da instituição. Foram apresentados seis painéis temáticos de debate nos quais participaram executivos de companhias marítimas, secretários de turismo e gestores de portos, entre outros importantes atores do segmento – com presença do Ministro do Turismo, Carlos Brito, e do presidente da EMBRATUR, Silvio Nascimento.
Há cerca de dois meses do início da temporada de cruzeiros na costa brasileira, o encontro reforçou a importância da integração das iniciativas privadas com o poder público, visando a constante evolução e amadurecimento do setor de cruzeiros no Brasil. “O Turismo é tão importante quanto o Agronegócio”, destacou o ministro do Turismo, Carlos Brito, durante seu discurso de abertura.
No panorama geral do encontro, por um lado havia a celebração pela retomada do calendário de cruzeiros no Brasil, após a pandemia – e os excelentes números da temporada, além do otimismo pelo potencial turístico do país. Por outro lado, havia um olhar cuidadoso para os desafios de infraestrutura, jurídico e fiscais a serem vencidos no ambiente interno de negócios.
Melhoria na segurança tributária e judicial, planejamento de ações a curto e médio prazos, metas definidas, previsibilidade e menos burocracia foram os denominadores comuns de todos os painéis.
Parcerias e planejamento para ganhar competitividade
O Brasil compete com destinos maduros como Caribe, Europa e Austrália – e, apesar do desejo de estender a vinda de navios durante todo o ano, que seria um próximo passo na evolução do setor, os custos do nosso destino ainda são pouco competitivos em relação ao cenário internacional. Contribuem para isso os altos preços e os impostos aplicados aos insumos de operação, tais como taxas portuárias, combustível, alimentos e mão de obra. Desta forma, durante o verão do hemisfério norte, a rentabilidade proporcionada por outros países acaba sendo bem mais atrativa para as companhias marítimas.
Esta visão foi compartilhada pelos três executivos que participaram do painel sobre tendências e cenários de cruzeiros no Brasil e no mundo – Dario Rustico, presidente executivo para América do Sul e Central da Costa Cruzeiros; Adrian Ursilli, country manager Brasil da MSC Cruzeiros; e André Pousada, vice-presidente regional e relações governamentais para a América Latina do Grupo Royal Caribbean.
“Este é o momento de trabalharmos juntos. Precisamos de um planejamento claro para daqui cinco a sete anos”, afirmou Dario Rustico, da Costa Cruzeiros. “Temos muito apelo comercial mas precisamos de um plano conjunto mais ambicioso. Os olhos do mundo estão no Brasil, estou confiante de que vamos encontrar soluções trabalhando juntos para esse futuro”, completou.
No seu discurso de abertura, Adrian Ursilli, da MSC Cruzeiros, também reforçou que a indústria tem muito espaço para crescer e gerar ganhos para todos os envolvidos com turismo. Mas, segundo Ursilli, “a infraestrutura vem antes da atividade. Assim como a aviação depende do aeroporto para operar, nossos portos precisam dar um passo adiante para receber navios maiores e mais tecnológicos”. Para o executivo, também é necessário simplificar o modelo tributário para atrair mais investimentos e para o desenvolvimento econômico. “O momento é muito promissor, queremos investir com apoio do governo para fazer esse crescimento acontecer”, completa.
“Competitividade é o fator-chave, todos os destinos do mundo competem entre si, há que ser feito um trabalho conjunto de todas as camadas – Governo Federal, Estados e destinos – pois o Brasil é grande e complexo. Com essas parcerias teremos uma relação de ganha-ganha para todos”, complementou André Pousada, do Grupo Royal Caribbean.
O presidente da CLIA Global, Pierfrancesco Vago, juntamente com a CEO Kelly Craighead, transmitiram ao Brasil sua mensagem “One community, strong together” durante vídeo de abertura do evento. Demonstraram o apoio da instituição para alavancar o crescimento do setor, gerando assim mais empregos e reforçando a economia local.
Novos portos e terminais de passageiros
A cidade de Salvador acaba de construir um novo terminal de passageiros em plena Baía de Todos os Santos, reversível para centro de eventos, com capacidade para receber até quatro navios ao mesmo tempo. Segundo Gilberto Menezes, diretor de operações do Contermas Salvador, estão preparados para receber a nova temporada, com terminal novo, sistema de transportes otimizado e receptivos, oferecendo tudo que a Bahia tem de melhor para os cruzeiristas.
O Pier Mauá no Rio de Janeiro está em obras até novembro, quando finaliza a dragagem do canal, a troca de cabeços e dimensionamento da equipe. O desafio ainda é onde acomodar ônibus e estacionamento para viajantes, ainda que o Armazém 3 poderá ser reversível para atender essa demanda, principalmente durante o Réveillon e Carnaval, de acordo com Luiz Cerqueira, presidente do Pier Mauá.
O porto de Santos, administrado pela concessionária Concais, tem um novo projeto de urbanização portuária em desenvolvimento na região do Valongo, ainda em fase de aprovação. A diretora de operações, Sueli Martinez, apresentou o plano de revitalização a ser realizado com a construção de um novo porto e terminal de passageiros nos próximos anos. Atualmente, o porto enfrenta dificuldade na ocupação simultânea de navios de passageiros e navios de carga – e na logística de integração do desembarque com o transporte até o terminal.
Para o secretário de Turismo da cidade de Itajaí, Evandro Neiva, a cidade tem um dos mais importantes portos comerciais do país, entretanto precisa melhorar a experiência do viajante. “Faremos embarque e desembarque durante a temporada, somos um hub atrativo para o Mercosul. Mas tivemos que remanejar a agenda do Centro de Eventos para fazer o papel alfandegário”, comentou Neiva.
Como os destinos estão se preparando
De acordo com Maurício Bacellar, secretário de Turismo da cidade de Salvador, nos últimos anos foram realizados investimentos em projetos culturais e náuticos em locais como Ilhéus, Morro de São Paulo, Barra Grande, Itacaré e Porto Seguro, com atrações gastronômicas, esportes, praias e cidades históricas.
A secretária de turismo de Santos, Selley Storino, destacou que a cidade é conhecida por ser o maior porto nacional. A parceria com a prefeitura está alavancando a revitalização do centro histórico e dos principais ativos regionais – a economia criativa e a gastronomia. A cidade recebeu o Selo Unesco de Cidade Criativa, com roteiros temáticos como o Festival do Café e o Festival Geek e um calendário que promove o artesanato local. O futebol é outro atrativo da cidade, com visitas aos centros de treinamento do Santos Futebol Clube e ao Museu Pelé.
No litoral do Rio de Janeiro, Búzios também está se preparando para receber os turistas com mais estrutura. De acordo com Maycon Siqueira, subsecretário de turismo da cidade, o píer local estava atendendo apenas aos pescadores da região. Entretanto, no resgate econômico pós-pandemia está sendo ampliado para também acomodar os cruzeiristas, junto com a instalação de câmeras de segurança com reconhecimento facial e melhoria no acesso rodoviário. O calendário cultural de eventos já conta com festivais de jazz e blues, vinhos e gastronomia. Também estão implementando taxi marítimo para viajantes conhecerem as praias do entorno.
A secretária de turismo de Ilhabela, no litoral de São Paulo, Luciane Leite, destacou o foco no eco-turismo do destino, já que a ilha conta com 94% de mata atlântica primitiva, 300 cachoeiras, praias e também permite o avistamento de baleias, golfinhos e aves durante grande parte do ano. “É um destino seguro para o viajante e também oferece atrativos culturais como a visita a Fazenda Engenho D’Agua, além de atividades esportivas, pois somos a capital nacional da Vela”. Visitar a ilha de bicicleta, em excursões a pé com receptivos trilíngues ou de jipe são outras possibilidades. “Também estamos criando um sistema de Aqua Bus que transportará os visitantes entre os 12 píers da orla”, completou Luciane.
“A cidade de Itajaí permite fácil deslocamento para cidades vizinhas como Penha, Piçarras, Itapema e Balneário Camboriú. Outro destino complementar é o Beto Carrero World”, afirmou o secretário de turismo de Itajaí, Evandro Neiva. “Santa Catarina tem um público jovem, festeiro e hospitaleiro, 90% dos turistas querem voltar”, destacou.
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