Pequena cidade na Costa do Cacau, na Bahia, tem atrativos para quem gosta de história, literatura, belas praias e chocolate
Por Luísa Medeiros
“O mundo é assim: incompreensível e cheio de surpresas”. A frase de Jorge Amado, o filho mais ilustre de Ilhéus, reflete um pouco do que se vê e sente na pequena cidade do sul da Bahia. À primeira vista, pode parecer desinteressante. Mas um olhar atento à sua arquitetura (que reflete quase 500 anos de história), aos versos espalhados pela cidade, ao aroma de chocolate de seus arredores ou aos seus 100 quilômetros de praias, entende-se sua relevância regional e porquê entrou na rota de cruzeiros nos últimos anos.
Ilhéus encanta seus visitantes: andar pelas ruas do centro histórico é como folhear livros de Jorge Amado. Os bares e praças relatados em suas obras ainda estão lá. A pujança do cacau, os coqueiros que emolduram o mar e tanto inspiraram o autor, ainda fazem parte da economia e do estilo de vida dos ilheenses. Um povo de fala mansa e que recebe os turistas com a receptividade tradicional dos baianos. Saiba, aqui, porquê esse é um porto que tem ganhado o coração de muitos cruzeiristas.
Do cacau ao porto de Ilhéus
Uma das cidades mais antigas do Brasil, Ilhéus foi fundada em 1535 – mas só ganhou notoriedade no início do século 20, quando se firmou como maior produtor de cacau do mundo. Grandes fazendas foram erguidas na região, que virou um polo do interior do estado – Ilhéus está 300 quilômetros distante da capital Salvador. Nos anos 1920, recebeu a construção de um porto para escoar a produção de cacau e, com isso, a modernização se acelerou e a cidade cresceu.
O declínio da monocultura do cacau, na década de 1980, transformou o dia a dia de Ilhéus. Os casarões viraram patrimônio histórico e, as grandes fazendas, espaços de produção de chocolate. O turismo histórico e gastronômico, aliado às belíssimas praias da cidade, passou a ser a principal atividade local. Nas últimas décadas, o porto passou, também, a receber navios de cruzeiro, repleto de turistas curiosos pela história e cultura local. Veja alguns atrativos e o que fazer em Ilhéus.
Ilhéus, terra de Jorge Amado
É difícil descolar a história e o turismo de Ilhéus da vida e obra de Jorge Amado. Apesar de ter nascido na vizinha Itabuna, o escritor de renome internacional adotou Ilhéus como sua cidade – foi onde cresceu e se inspirou para a escrita. As grandes fazendas de cacau, o coronelismo, a alegria do povo baiano e o mar da costa do cacau fazem parte do cenário de suas obras.
Muitos romances são ambientados no município e casarões, bares e praças ainda estão de pé, atraindo uma verdadeira peregrinação por apaixonados pela literatura de Jorge Amado. A rua onde cresceu, ganhou seu nome. A casa onde passou a infância e adolescência, virou a Casa de Cultura Jorge Amado, com exposição de roupas, fotos, histórias da infância e vídeos sobre o escritor.
Centro histórico de Ilhéus
Cerca de dois quilômetros do porto, está o núcleo central da cidade, repleto de casarões históricos que remetem à era de ouro da produção de cacau. Muitos prédios, inclusive, foram descritos e incorporados às obras de Jorge Amado. O centro é pequeno e pode ser percorrido facilmente a pé, em algumas horas. Conheça alguns destaques:
- Prédio da Associação Comercial: Construído em 1932, possui características da Belle Époque e foi importantíssimo na história dos produtores de cacau da cidade. No livro São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado, é o cenário do amor proibido entre a esposa de um exportador de cacau e o poeta Sérgio Moura.
- Bataclan: Antigo cabaré e cassino, frequentado pelos coronéis do cacau, entrou em decadência com a proibição do jogo no país. Reaberto em 2004 como Centro Cultural Bataclan, manteve a fachada e preservou os cenários do velho bordel, além do quarto de Maria Machadão, antiga dona do estabelecimento.
- Grupo Escolar General Osório (Biblioteca Pública): Foi projetado para servir de núcleo estudantil numa época em que Ilhéus era o maior polo de desenvolvimento do sul da Bahia, com o apogeu da cultura cacaueira. Foi inaugurado em 1915 e, em 2002, o prédio foi transformado em Biblioteca e Arquivo Público.
- Marco da Fundação: Localizado no alto do morro de São Sebastião, foi criado para celebrar os 450 anos de fundação de Ilhéus. Possui uma belíssima vista da cidade.
- Palacete Misael Tavares: Inaugurado no dia 16 de dezembro de 1922, o palacete em estilo neoclássico pertenceu a um dos mais importantes produtores da época áurea do cacau, Coronel Misael Tavares. Após o seu falecimento, o casarão foi adquirido pela Loja Maçônica Regeneração Sul Baiano.
- Palácio Paranaguá: Construído em 1907 em estilo neoclássico, no mesmo local onde existiam ruínas de um colégio jesuíta, seu nome é uma homenagem ao presidente da província da Bahia da época do Brasil-império que elevou, em 1881, a Vila de São Jorge dos Ilhéus à categoria de cidade.
- Teatro Municipal de Ilhéus: Originalmente chamado de Cine-Theatro Ilhéos, é uma das mais antigas e tradicionais casas de espetáculos da Bahia, fundada em 1932.
- Vesúvio: Aberto por volta de 1920, o bar Vesúvio ganhou fama com o romance Gabriela Cravo e Canela. Depois de mudanças de dono e de nome, recuperou o charme do velho Vesúvio em 2000, quando foi totalmente reformado em busca das características originais – entre elas, as mesas na calçada.
Igrejas de Ilhéus
Tradição nas cidades baianas, as igrejas têm papel fundamental na história e no visual da cidade. Destaque para a Igreja Matriz de Ilhéus, a mais antiga da cidade, erguida em 1556. Além da imagem de São Jorge e do imenso painel que conta a história de Ilhéus, abriga também o Museu de Arte Sacra, fundado em 1970.
A cidade também abriga a Capela Nossa Senhora das Vitórias, do início do século XVI; a Capela Nossa Senhora de Lourdes, toda em pedras, dos anos 1940; e o Instituto Nossa Senhora da Piedade, o antigo convento da Piedade, fundado em 1916, uma das poucas edificações em estilo neogótico do Brasil.
Já a imponente Catedral de São Sebastião é considerada uma das mais bonitas igrejas da Bahia. Inaugurada em 1967 e reúne em sua fachada detalhes do estilo neoclássico, como vitrais artísticos, abóbadas e colunas.
Fazendas de cacau
Os visitantes de Ilhéus têm a oportunidade de conhecer todo o processo produtivo do chocolate de alta qualidade com o turismo rural. O visitante faz um tour pelas fazendas nos arredores da cidade, onde conhece todo o processo de beneficiamento do cacau, da colheita, a secagem nas barcaças, o preparo da semente, culminando na degustação dos chocolates.
Localizadas em áreas de mata atlântica, são rodeadas de trilhas, cachoeiras e animais silvestres. Cruzeiristas que planejam estender sua estadia pela região, podem pernoitar nas fazendas, que também servem de pousadas.
As praias de Ilhéus
Ilhéus tem um dos litorais mais extenso do país: são quase 100 quilômetros de praias de água morna e clara, típicas do sul da Bahia. Por sua enorme extensão, o litoral divide-se em três regiões.
São oito praias urbanas, facilmente acessadas desde o centro histórico. Contam com quiosques e infraestrutura para receber turistas. São elas: São Miguel, Boca da Barra, Havaizinho, Malhado, Avenida, Cristo, Concha e Pontal.
Ao norte da região central, acessíveis pela BA-001, estão oito praias que também atraem muitos turistas, seja para passar o dia ou se hospedar. São elas: Norte, Mar e Sol, Jóia, Barramares, Coqueiros, Ponta do Ramo, Mamoã e Ponta da Tulha.
Já ao sul estão as praias mais famosas, com cabanas maiores e melhor estrutura. São 12 balneários, entre eles a Praia dos Milionários, ponto mais badalado da região. Os visitantes ainda podem visitar as praias: Sul, Cururupe, Back Door, Batuba, Cai n’Água, Siriba, Jairi, Canabrava, Água de Olivença, Acuípe e Desejo.
Compras em Ilhéus
Em uma cidade que respira literatura, é fácil encontrar livros e souvenirs ligados a Jorge Amado. Também é possível encontrar artesanato local que remetem à produção de cacau e feitas com palhas de coqueirais, outra vegetação abundante da região.
Culinária em Ilhéus
Tradicional em cidades litorâneas, é grande a oferta de frutos do mar em Ilhéus. Destaque, também, para sucos e drinks a base do cacau e, claro, o chocolate de alta qualidade fabricado na região.
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