Cada vez mais as grandes embarcações estão desbravando a região amazônica em cruzeiros para todos os tipos de viajante
Por Luísa Medeiros
Paisagens deslumbrantes, animais silvestres, caminhadas pela mata, passeio de canoa, visita a comunidades ribeirinhas e indígenas e, até mesmo, banho em praias de água doce. Fazer um cruzeiro pelos rios da Amazônia pode ser uma experiência única na vida de um viajante. A boa notícia é que, cada vez mais, companhias de cruzeiro estão apostando em roteiros pela região – tornando, assim, a viagem muito confortável.
A região de maior biodiversidade do planeta é um verdadeiro tesouro do nosso continente – e a maior parte está no Brasil. Então, esqueça a ideia pré-concebida de que conhecer a Amazônia é um programa apenas para aventureiros. Embarque conosco para saber como é navegar com todo o conforto em um cruzeiro pela maior floresta do mundo.
Entendendo a Amazônia
A Amazônia é um território que abrange Brasil, Bolívia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. São quase 7 milhões de quilômetros quadrados de ecossistemas – e a maior parte deles, em torno de 4 milhões de quilômetros quadrados, estão no Brasil (de acordo com o IBGE). Compreende o conjunto de ecossistemas que correspondem a Floresta Amazônica, maior floresta tropical do mundo; e também a Bacia Amazônica, maior bacia hidrográfica do planeta.
Isso faz, portanto, com que a região seja perfeita para ser conhecida ao longo do leito de seus rios. É a bordo de embarcações de todos os tipos e tamanhos que a grande maioria dos turistas chega até o coração da floresta. Ainda que a grande maioria das embarcações que cruzam a região sejam apenas para transporte, atualmente já existem cruzeiros regulares no Brasil, além de opções na Amazônia peruana, boliviana e colombiana.
No Brasil, o maior volume de navegações de turismo se dá pelos rios Amazonas, Negro e Solimões. Os principais portos para cruzeiristas estão localizados em Manaus, no estado do Amazonas; bem como Belém, Alter do Chão e Santarém, no Pará.
Como é a experiência de cruzeiro na Amazônia?
Os cruzeiristas mais experientes podem até achar estranho navegar apenas entre rios e florestas durante vários dias. Nada de cartões postais, grandes edifícios, praias famosas ou museus. Por outro lado, navegar pela Amazônia pode ser uma experiência marcante.
A influenciadora de viagens Nicole Werneck Ferreira fez um cruzeiro no navio Grand Amazon em junho de 2023. A embarcação realiza duas rotas – navegando pelo Rio Negro e pelo Rio Solimões. A opção foi por um cruzeiro de quatro noites pelo Rio Negro, que deixou a viajante experiente encantada.
“A paisagem é incrível; foi uma das melhores experiências de viagem que já tive”, afirma Nicole. Ela relata que não é uma viagem em que os cruzeiristas ficam apenas no navio, mas conhecem a região de fato, com atividades como, por exemplo, a observação de botos ou caminhadas pela floresta. “E tudo é feito com guias locais, que têm um conhecimento muito grande da região. Então, passam muita confiança e atendem muito às expectativas de quem tá visitando a região”, afirma.
O cruzeiro realizado por Nicole possui alimentação e bebidas incluídas (com especiarias locais, vale ressaltar), bem como os passeios para aprofundar o conhecimento da região. Esse fator foi primordial para a viajante, que tinha muita vontade de conhecer a Amazônia, mas não tinha ideia de como seria. “Não precisa se preocupar com nada, está tudo pronto e você só escolhe qual atividade quer fazer”, conta.
“Foi uma surpresa grata, gostei muito. A estrutura (do navio) é maravilhosa, é uma hospedagem cinco estrelas, tudo funcionando perfeitamente. As cabines são muito bonitas, com vista pro rio, então acordar e ver o amanhecer dentro da varanda da cabine, dentro do rio e um silêncio total, absoluto – foi demais!”
Nicole Werneck Ferreira, influenciadora de viagens
Opções de passeios durante o cruzeiro
Durante um cruzeiro pela Amazônia, é possível escolher por diversas atividades oferecidas – a bordo e fora do navio. Do conforto da embarcação, é possível contar com o olhar treinado dos guias locais que ajudam a avistar animais selvagens como cobras, aves ou animais aquáticos. Fora dela, pode-se caminhar pela floresta, visitar comunidades indígenas e ribeirinhas, navegar em pequenas embarcações para observar de perto animais diurnos e noturnos (como o jacaré), realizar pesca esportiva ou até mesmo curtir um banho numa praia de água doce, dependendo da época do ano.
“Fiz uma caminhada pela floresta e foi bem legal, os guias explicam tudo nos mínimos detalhes, nos fazem enxergar a natureza com outros olhos”, conta Nicole. Também é possível interagir com animais como macacos e até formigas. “Com a orientação dos guias, encostamos em árvores que estavam cobertas de formigas, deixando que elas subissem na gente – e elas não picam por causa de uma substância presente na árvore”, narra.
É importante ressaltar que a indústria de cruzeiros navega de acordo com as normas ambientais. Todas as embarcações que cruzam os rios da floresta precisam cumprir com regras específicas de ecologia e ética para preservar os locais e suas comunidades.
O imperdível encontro dos rios
Uma das atrações que mais chamam a atenção de quem visita a Amazônia é o encontro dos rios Negro e Solimões, onde é possível ver os cursos d’água correndo lado a lado, sem se misturar. Mas você sabe porquê o fenômeno acontece?
O rio Solimões é barrento, com uma tonalidade marrom; por sua vez, o rio Negro tem águas escuras, quase pretas. Eles se encontram em uma região próxima à capital do Amazonas e, num percurso de cerca de 6 quilômetros, correm juntos, sem que suas águas se misturem. Isso ocorre por diferenças de velocidade, temperatura e acidez das águas. A maior acidez do Rio Negro também explica, por exemplo, uma incidência menor de animais em seu leito, inclusive os indesejados mosquitos.
Você sabia? A Bacia Amazônica é a maior maior bacia hidrográfica do planeta. O principal rio é o que dá nome à bacia, o Rio Amazonas, o mais extenso do mundo, percorrendo 6.992 quilômetros desde a cordilheira dos Andes, no Peru, até a região da ilha de Marajó, no norte do Pará. São mais de mil afluentes que alimentam esse verdadeiro gigante.
Quando fazer um cruzeiro pela Amazônia?
Apesar de ser uma região possível de visitar durante todo o ano, é importante entender a dinâmica do clima na região amazônica. Próxima à Linha do Equador, a floresta apresenta temperaturas altas e chuvas abundantes em todos meses do ano. A diferença é o volume dessas chuvas, que influenciam nos níveis dos rios.
Quando a Nicole visitou a Amazônia, por exemplo, era época das cheias (junho). Um dos fatores que mais encantou a viajante foi avistar o topo das árvores lado a lado do navio. Durante os passeios em pequenas embarcações, por exemplo, era possível tocar os galhos mais altos.
A chamada estação chuvosa, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ocorre de novembro até março, culminando com a maior alta dos rios em junho. Se por um lado a temperatura é mais amena, é importante estar preparado para chuvas torrenciais e em maior volume. É nessa época que a navegação é mais fácil, especialmente se você escolher um barco maior.
Por outro lado, a estação seca ocorre de maio até setembro, sendo que o nível mais baixo dos rios (vazante) ocorre em setembro. Nessa época é possível encontrar diversas praias de rio que ficam totalmente encobertas em tempos de chuva. É um período ideal para exploração por terra ou em navios menores.
Por onde eu começo?
A Amazônia é tão ampla e complexa, que pode causar até certa confusão na hora do planejamento de viagem. Há um incontável número de embarcações que anunciam cruzeiros pela Amazônia – dos mais diversos estilos, tamanhos e preços.
Portanto, esteja muito bem atento às características dos barcos para não embarcar em um barco de transporte (intermunicipal ou interestadual) achando que está contratando um cruzeiro. Nesse caso, o cruzeiro terá um caráter mais turístico, com atrações a bordo, excursões, restaurantes e acomodações bastante cômodas. Já o barco de transporte, no estilo balsa, será somente uma travessia e as acomodações que podem ser decks com redes ou quartos mais simples. A DICA KROOZE é sempre conversar com seu agente de viagem antes de fechar negócio.
- Se sua ideia é fazer um cruzeiro pela Amazônia Brasileira, tenha em mente que os principais roteiros começam em Manaus, capital do Amazonas. Lá, há uma estrutura portuária confortável e ágil para o embarque e desembarque de cruzeiristas. As principais rotas saindo de Manaus navegam em direção ao Rio Solimões ou ao Rio Negro, com possibilidade de explorar o Arquipélago de Anavilhanas.
- O porto de Belém, no Pará, tem ganhado relevância nos roteiros, especialmente de cruzeiros internacionais que estão “de passagem” pela Amazônia. Pode-se encontrar, também, cruzeiros que saem de Belém com destino a Manaus e vice-versa em companhias locais e, portanto, com menos comodidades.
- Santarém e Alter do Chão (ambas no Pará), à beira do Rio Tapajós, também têm recebido grandes embarcações, especialmente internacionais – é o caso da Seabourn, por exemplo. Algumas companhias locais oferecem opções de navegação com embarque e desembarque nessas cidades, navegando pelos rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas.
- Os principais rios que recebem os cruzeiristas são o Amazonas, Negro e Solimões – com a possibilidade de estender para afluentes quando se navega com navios menores.
- Há companhias que oferecem roteiros pré-estabelecidos pela Amazônia e há, também, embarcações menores destinadas a grupos, com roteiros personalizados (conhecidos como charters). Os roteiros pré-estabelecidos podem incluir a travessia entre dois portos ou um recorrido embarcando e desembarcando na mesma cidade. Há algumas opções que começam no Brasil e terminam em outros países como Peru ou Bolívia, por exemplo.
- Se o interesse for combinar a viagem à Amazônia com destinos do país vizinho, vale a pena conferir as opções da Aqua Expeditions, com saída de Iquitos, no Peru; da Uniworld, que também navega desde Iquitos e inclui possíveis extensões para conhecer lugares como Machu Pichu; e da Delfin Amazon Cruises, que possui três navios com rotas pela Amazônia internacional e realiza roteiros com parcerias com grandes agências de turismo de expedição.
- A decisão sobre a estação do ano influencia diretamente no tipo de embarcação que você vai navegar. Na estação chuvosa, terá a oportunidade de escolher um navio grande, com mais comodidades a bordo. Já na estação seca, terá que optar por navios menores, que podem navegar em rios mais rasos.
Quanto custa fazer um cruzeiro pela Amazônia?
Assim como as opções disponíveis são muitas, a diferença de preços é bastante ampla. Uma busca realizada pela Krooze em abril de 2024 mostrou tarifas a partir de R$ 6 mil para cruzeiros de três noites, para duas pessoas, em cabine com varanda; podendo chegar a R$ 19 mil um roteiro de três noites em quarto individual em embarcações mais luxuosas e exclusivas.
Essa variação ocorre pela diversidade dos serviços e comodidades oferecidas a bordo. Em um navio maior, é possível encontrar tarifas reduzidas, especialmente comprando com antecedência. Já em navios menores, paga-se por um serviço mais exclusivo e personalizado, como se estivesse em um iate de luxo.
Importante lembrar, também, que pequenas embarcações (de até 10 cabines), trabalham muito com o serviço de charter, ou seja, reserva exclusiva para grupos. Nesses casos, a tarifa vai ser cobrada por dia de navegação e tanto o navio quanto a tripulação estarão inteiramente disponíveis para o seu grupo.
Algumas opções de cruzeiros pela Amazônia no Brasil:
Grand Amazon Expedition
Um verdadeiro hotel sobre as águas, o Grand Amazon, da companhia Iberostar, oferece cruzeiros de três e quatro noites, além de optar por combinar os dois roteiros em uma viagem de sete noites. As viagens partem sempre de Manaus e navegam pelos rios Negro, Solimões e Amazonas.
O roteiro de quatro noites pelo Rio Negro passa por locais como os Igarapés de Jaraqui, a Ilha das Três Bocas e Ariaú. Em cada experiência é possível observar a fauna e conhecer a rica cultura local. Por sua vez, a viagem de três noites percorre o Rio Solimões. Neste percurso se conhece a cultura da população local na região do lago Janauacá, a fauna e flora da região de Manaquiri e o artesanato da região do lago Janauari. Para não perder nada, é possível escolher o roteiro de sete noites, que inclui os percursos dos dois itinerários.
M/V Desafio
O M/V Desafio sai de Manaus semanalmente, em cruzeiros de quatro dias pela Amazônia. A companhia é especializada em cruzeiros fretados e personalizados, os charters, e oferece também dois roteiros a bordo de um navio no estilo veleiro, com 12 cabines para no máximo 24 passageiros. Seu tamanho permite navegar por florestas alagadas, inacessível para grandes embarcações.
A Expedição Maguari tem saída de Manaus e visita, principalmente, o Arquipélago das Anavilhanas, o maior arquipélago fluvial do mundo. O cruzeiro também inclui explorações diárias e atividades em barcos motorizados na selva, bem como uma rica culinária amazônica servida no restaurante panorâmico. Já a Expedição Namaste propõe uma imersão de Yoga ao mesmo tempo em que navega pelas águas do Rio Amazonas.
Untamed Amazon
O navio Untamed Amazon é fora do convencional, com uma arquitetura que promete gerar o mínimo de impactos ambientais, serviço de altíssimo nível e capacidade para 16 hóspedes em oito cabines. As atrações a bordo incluem cozinha internacional com ingredientes locais, banheiras de hidromassagem e excursões pela floresta.
Oferece sete roteiros diferentes, com duração entre uma e cinco noites. Os embarques são sempre em Manaus, enquanto os desembarques podem ser em outros lugares como, por exemplo, Santarém – nesse caso, o pacote de cruzeiro prevê transfer em carro até a capital amazonense. Além dos roteiros pré-definidos, também oferece a possibilidade de viagens personalizadas e o uso da embarcação para eventos corporativos.
Kaiara
A Kaiara possui três embarcações navegando pela região, o Belle Amazon, com oito cabines; o Amazon Dolphin, com 11 cabines; e o Tupaiú, para viagens mais exclusivas, com apenas quatro cabines. Os navios maiores possuem saídas regulares de três, quatro e cinco noites. Os embarques são em Alter do Chão, no Pará, e a navegação se dá especialmente nas águas dos rios Tapajós, Arapiuns, Amazonas e seus afluentes.
A proposta do roteiro é proporcionar um mergulho na cultura da região enquanto navega por rios e córregos pouco explorados por grandes embarcações. Durante o cruzeiro estão previstas visitas a comunidades ribeirinhas, oficina de artesanato local, trilha pela floresta, mergulho nas praias de rio e uma visita típica casa de farinha da região.
Outros cruzeiros que passam pela Amazônia
Além dos cruzeiros que se dedicam exclusivamente a explorar a região amazônica, é possível observar um número cada vez maior de navios que incluem a região durante seus cruzeiros internacionais ou em expedições pontuais. É o caso, por exemplo, de cruzeiros de volta ao mundo – ou que fazem a travessia entre América do Sul e América do Norte, incluindo os rios da Amazônia no roteiro.
Este ano, a MSC Cruzeiros, incluiu portos na região em 2024 durante seu cruzeiro de volta ao mundo. A Seabourn, que é especializada em cruzeiros de expedição, anunciou recentemente três viagens exclusivas pela região, em 2025. Já a Explora Journeys incluiu a Amazônia como parte do trajeto de grandes viagens (entre setembro de 2024 e abril de 2025), elencando lugares como Macapá, Alter do Chão e Manaus, entre os destinos.