Atração turística pode ser o primeiro passo para a transferência do terminal de cruzeiros de Santos, obra aguardada por companhias, cruzeiristas e poder público
Por Luísa Medeiros
Uma nova área para embarque e desembarque de cruzeiristas em Santos pode estar, por fim, saindo do papel. Nessa semana, será inaugurado o Parque Valongo, na área de armazéns portuários no centro da cidade. E, ao mesmo tempo em que o município ganha um novo espaço de turismo e lazer, as atenções se voltam para uma possível transferência do terminal de cruzeiros para o local.
O Parque Valongo revitalizou o antigo Armazém 4 do histórico Porto de Santos. Uma estrutura coberta e climatizada será utilizada para eventos. O espaço externo, onde estavam os armazéns 5 e 6, o público vai ganhar uma área com quadra esportiva, playground, jardim e roda gigante. O espaço terá, ainda, uma plataforma flutuante para embarque e desembarque de pequenas embarcações turísticas.
Um píer também possibilitará observar o tráfego de navios pelo canal do Porto, que fica muito próximo. E é essa observação que carrega a expectativa sobre um tema importante: a possibilidade da transferência do terminal de cruzeiros para a região mais próxima ao centro de Santos e isolada da área de cargas.
Parque Valongo inaugura em 5 de julho | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos Plataforma flutuante e píer de observação no Parque Valongo | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos Armazém 4 foi transformado em centro de eventos | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos Parque Valongo, próximo ao centro de Santos | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos Parque Valongo faz parte de estratégia de revitalização do centro histórico | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos Área de lazer do Parque Valongo | Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos
Expectativa de mudanças no Porto de Santos
O Porto de Santos é, sem dúvida, o mais importante do país. Atualmente, o Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini (Concais) é responsável por 60% dos embarques e desembarques de cruzeiristas no Brasil. Somente na última temporada, recebeu mais de um milhão de viajantes.
E, apesar de estar em constante aprimoramento, já é antiga a mobilização dos principais personagens do mercado de cruzeiros para melhorar a estrutura e o acesso dos cruzeiristas ao terminal de Santos. Atualmente, os navios não possuem berços próprios e fazem a ancoragem em berços públicos. Assim, dividem espaço com navios de carga. Além disso, os viajantes compartilham o acesso ao porto com caminhões.
A reformulação dos antigos armazéns, próximos ao centro histórico da cidade, dão novo fôlego à ideia de transferência do terminal de cruzeiros de Santos para o coração da cidade. O gerente de operações do Concais, Javier Carnevale, se mostra prudente em relação a previsões. Ele enfatiza que a transferência ainda não está aprovada. “A mudança somente ocorrerá após o estudo realizado ter tramitado pelos órgãos competentes”, explica. No entanto, pondera que o impacto seria positivo. “Caso haja a aprovação, os passageiros poderão facilmente ter acesso e visitar os pontos turísticos do centro de Santos”.
Durante o Estudo de Viabilidade Econômica, o Concais estimou o investimento necessário em R$1,2 bilhão. Isso com todas as providências de obras, inclusive a construção de um estacionamento de quatro andares para acomodar os carros dos cruzeiristas. Carnevale, no entanto, afirma que há diversos condicionantes aos valores, por isso é difícil estimar o montante final a ser investido.
Andamento do projeto
São diversas etapas que fazem parte da aprovação do projeto para posterior início das obras. Confira:
- Atualmente, o projeto está aberto para que interessados enviem suas manifestações por escrito;
- O próximo passo, então, é o porto responder a essas manifestações, realizar um relatório e enviar à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq);
- Por sua vez, a Antaq analisa todos os documentos, faz um relatório e envia ao Tribunal de Contas da União (TCU);
- O TCU, então, faz uma análise do projeto, incluindo o relatório financeiro, e se manifesta;
- Se a manifestação for favorável, a Antaq encaminha um documento final para assinatura da obra. Caso não seja, são dadas sugestões para adequações antes de uma nova apreciação.
De acordo com Marco Ferraz, presidente da CLIA, em um cenário otimista, a obra de transferência do terminal de cruzeiros de Santos poderia estar pronta para a temporada 2028/2029, mais tardar 2029/2030. “É importante termos uma previsibilidade para que as companhias possam se preparar para navegar nesse novo cenário. Com berços exclusivos, temos a chance de ampliar ainda mais a presença de navios na costa brasileira”, afirma.
Autoridade Portuária defende a transferência
O presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, explica que a possível transferência do terminal de passageiros para a região do Parque Valongo envolve várias frentes. Entre eles o Concais, o Ecoporto, a Prefeitura de Santos, a Autoridade Portuária de Santos e toda a logística portuária.
“O Concais já apresentou projetos e custos e deixou claro que não é uma medida de caráter imediato. Pois envolve inúmeras condicionantes como utilização de parte do Ecoporto; a construção de novos berços; bem como o aprofundamento do calado, uma vez que junto ao antigo cais Valongo, onde está o parque, não permite mais atracar navios. É preciso também viabilizar uma passarela para a movimentação dos passageiros, a disponibilização de um amplo estacionamento, entre outras providências”, pondera.
No entanto, afirma que a APS defende a transferência pois entende que o turista de cruzeiro merece uma melhor infraestrutura, com espaço separado que permite mais conforto, além de todo o incremento de atividades econômicas e de inclusão social que permeiam a revitalização do centro da cidade. “A transferência, a ser viabilizada no devido tempo, acompanhada de toda a infraestrutura, permitirá que o turista não precise mais caminhar entre os trilhos, disputando espaço com a movimentação de cargas, quando acessa ou deixa o terminal. Poderão, também, acessar rapidamente uma área de grande interesse histórico, cultural e com várias opções de restaurantes, lojas e serviços”, afirma.
“O Concais no Valongo, em frente ao Parque e ao centro histórico de Santos, com inúmeras atrações, é um sonho antigo que se torna a cada dia mais próximo, graças ao permanente diálogo que mantemos com a comunidade portuária e autoridades locais.” Anderson Pomini, presidente da APS
Benefícios em diversas áreas
O secretário de Desenvolvimento Urbano de Santos, Glaucus Farinello, lembra que a mobilização para aproximar o porto da cidade é antiga. “A sociedade há muito clama por essa integração entre o porto e Santos, se questionando porque o porto fica de costas para a cidade”, afirma. Ele refere que a própria história da cidade se mistura com o trânsito de navios – um histórico que remete à era do café e à chegada de imigrantes estrangeiros no Brasil imperial.
Farinello enfatiza, também, que atualmente o terminal está isolado e segregado do contexto da cidade. Ao integrar o porto ao dia a dia da população, portanto, diversos setores ganham. “O terminal integrado ao Parque Valongo representa uma soma de ações para repovoar e reviver o centro histórico. Trazer o terminal para uma região integrada ao planejamento urbano da cidade traz inúmeras oportunidades para a área turística, de serviços e gastronomia, entre outros.”
Engajamento pelo setor de cruzeiros
Por sua vez, o presidente da CLIA Brasil, Marco Ferraz, avalia que é preciso uma mobilização de todos os setores para tornar a transferência do terminal de Santos uma realidade. O executivo participou recentemente de uma consulta pública realizada em Santos, quando a maioria dos presentes se mostrou favorável, mesmo que exista, ainda, alguma resistência de outros setores. “Essa mudança, estudada no detalhe, melhora muito a experiência do passageiro. Permite que ele visite a cidade com mais facilidade, quando está em trânsito. Bem como, gera vontade de ficar mais tempo na cidade quando embarca ou desembarca em Santos”, avalia.
Além disso, Ferraz ressalta a importância da questão ambiental. “Junto com a CLIA Internacional, estamos caminhando rumo a zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2050. Nesse projeto, cada um dos três berços para receber os cruzeiros estará equipado com energia elétrica. Portanto, permitindo que os navios desliguem seus motores quando atracados, zerando a emissão durante o período que estão no porto”, afirma.
Ele avalia, também, que a transferência do Concais para o centro da cidade permite que a área utilizada atualmente seja negociada com o transporte de cargas. Gerando, assim, mais receita para o porto.