Onde procurar vagas e qual perfil ideal para trabalhar nos mares
Por Fernanda Corrêa
*atualizada em dezembro de 2022
Como trabalhar em navios de cruzeiros? Essa é a pergunta de muitos brasileiros em busca de uma experiência internacional ou que desejam construir uma carreira no segmento. Muitas pessoas querem saber onde procurar vagas, como é o processo de seleção e como é a rotina da tripulação. A Krooze preparou uma matéria com informações e curiosidades para responder algumas dessas dúvidas.
Para pessoas interessadas em ingressar na carreira, vamos mostrar qual caminho seguir, com informações sobre os tipos de profissionais requisitados, as faixas salariais, modelos de contratação e relatos de tripulantes.
Esperamos assim, inspirar e direcionar todos que desejam navegar por esses mares!
Qual o perfil ideal para trabalhar em cruzeiros?
Trabalhar em um cruzeiro tem vantagens que fazem os olhos brilharem. O salário é em dólar e livre de descontos, a hospedagem e a alimentação são gratuitas, com atendimento médico incluído e a possibilidade de conhecer vários destinos mundo afora. Entretanto, o primeiro passo é identificar se o seu perfil se encaixa neste segmento.
Os profissionais de cruzeiros relatam que a rotina é fisicamente puxada, envolve em torno de 10 horas de trabalho diárias, sete dias por semana, distância da família e a convivência com hábitos culturais completamente diferentes dos nossos. Mas, apesar de desafiadora, também relatam que não trocariam essa carreira por outra.
Segundo Carolina Coelho Nunes, CEO da Internacional Serviços Marítimos Brasil (ISMBR), agência de recrutamento e seleção de tripulantes, as principais características pessoais no segmento devem ser flexibilidade, entusiasmo, vontade para trabalhar duro, responsabilidade, além de interesse em crescimento e em adquirir vivência internacional. A executiva acrescenta, ainda, que entre os atributos profissionais mais requisitados estão a comunicação no idioma inglês em nível intermediário (no mínimo) e experiência anterior no setor hoteleiro, turismo ou gastronômico – sendo também valorizadas as vivências em atendimento ao cliente e em entretenimento.
Sobre o perfil dos brasileiros, Carolina explica que “ainda temos mais vagas do que candidatos qualificados, mas o brasileiro tem como principal diferencial uma simpática única.” Luiz Trindade, CEO da Portside, empresa de seleção e recrutamento e que é formada por ex-tripulantes de cruzeiros, reforça esse fator e adiciona: “os brasileiros são bem qualificados para as vagas em cruzeiros, mas uma barreira na maioria das vezes é a comunicação em inglês. No entanto somos um povo alegre e que tem um excelente atendimento ao cliente”.
Trindade destaca ainda outra característica importante sobre o perfil ideal dos candidatos: que sejam desapegados com a questão de estar longos períodos longe de casa e de seus familiares e amigos, e que desejem conhecer outras culturas e países.
E na opinião de quem trabalha atualmente num cruzeiro, quais características são imprescindíveis? A resposta é “persistência, perseverança e paciência”, segundo Daniel Dornas, tripulante brasileiro que atua desde 2009 como gerente de atividades e assistente do diretor de cruzeiro, na Royal Caribbean. “Eu vi durante muitos anos muitos tripulantes brasileiros desistirem da carreira internacional em navios por falta de adaptação a horários, por não terem disciplina ou por não conseguirem seguir uma linha de comando a bordo”, completa.
Como é um contrato de navio de cruzeiro?
Antes de mais nada, é importante entender como funciona um contrato de trabalho em um navio de cruzeiro. Os tripulantes são contratados diretamente pelas companhias, via um contrato internacional de trabalho que tem um tempo determinado – em média entre 6 e 9 meses de duração.
Com exceção de algumas funções mais técnicas (como engenheiros ou médicos por exemplo), não é necessário um diploma de curso superior para trabalhar em um navio. Ter experiência prévia na área que vai atuar ajuda muito na seleção, mas não chega a ser um pré-requisito. O que é fundamental é saber se comunicar em inglês, que é o idioma oficial dentro dos navios, inclusive para os treinamentos de segurança. Também são exigidos dois cursos específicos para trabalhar a bordo: o Seafares’s of Training, Certification and Watchkeeping (STCW), e o Curso de Familiarização de Proteção de Navio (CFPN), ambos com validade de cinco anos.
As normas que regem os contratos são determinadas pela convenção do trabalho marítimo de 2006 (Maritime Labour Convention 2006), e regulamentadas pelo International Labour Organization (ILO), portanto, eles não estão vinculados às leis de trabalho brasileiras. Isso inclui não contar com o tempo de contribuição para a previdência – ou seja, tempo de serviço para a aposentadoria. Como não é desconto de impostos no rendimento, a maioria dos tripulantes contribui individualmente para o governo durante sua carreira para facilitar o processo de aposentadoria mais tarde.
Existem normas gerais, como por exemplo a obrigação da companhia marítima em repatriar o tripulante (até o seu país de origem), após o fim do contrato. Enquanto embarcado, o tripulante também não tem custos com alimentação, moradia e saúde. Caso seja necessário tratamento médico fora do navio, o tripulante será desembarcado e terá assistência com as despesas médico-hospitalares.
Já outras práticas não são obrigatórias mas algumas companhias adotam, como por exemplo pagar a passagem do tripulante desde sua cidade até o porto de embarque, pagar os cursos de formação obrigatórios ou os uniformes, disponibilizar itens de higiene pessoal ou internet a bordo – é importante estar atento ao que a companhia oferece.
Ao terminar o contrato, o tripulante volta ao seu país de origem e entra em um esquema de rotação de vagas, esperando para ser chamado novamente (em torno de 3 a 4 meses). Importante ressaltar que esse período não é considerado férias, portanto ele não recebe nenhum valor da companhia de cruzeiro.
Como é o processo de seleção para trabalho em navios
Há duas maneiras de se candidatar às vagas em cruzeiros: recorrer às agências de recrutamento ou consultar diretamente as companhias marítimas. A vantagem da empresa de RH é a assessoria prestada durante o processo de seleção, enquanto ao candidatar-se diretamente na companhia, o candidato deverá ter mais autonomia em inglês para preencher os formulários dos sites.
Empresas de RH especializadas
As companhias marítimas globais são parceiras de agências de recrutamento especializadas em cruzeiros, localizadas em diversos países, inclusive no Brasil. Essas empresas divulgam as vagas disponíveis, recebem os currículos e analisam o perfil dos candidatos. Depois de uma seleção prévia e entrevistas realizadas em português e inglês, as agências encaminham os brasileiros para entrevistas em inglês, pela empresa contratante.
O processo de contratação dura cerca de 3 meses, entretanto, mesmo após a aprovação, a companhia marítima poderá levar até 12 meses para embarcar o novo tripulante. Para trabalhar
a bordo, é necessário ter mais de 18 anos (para companhias dos Estados Unidos a idade mínima é 21 anos) e não há limite máximo de idade, desde que a pessoa esteja saudável. Outros requisitos são atestado de boas condições de saúde física e mental; certificado de ensino médio completo; os cursos de formação e passaporte válido (com visto para tripulante caso o contrato preveja passagem por portos que exigem).
O candidato não terá custos com a agência de recrutamento, que é remunerada pelas contratantes. Entretanto é importante ter em mente que a maioria das companhias não cobrem os custos com os cursos, exames médicos, passaporte e vistos – e, quando o fazem, o reembolso é feito a bordo, então é preciso ter esse valor para investir antes de começar a trabalhar.
Onde procurar vagas em cruzeiros marítimos
As principais empresas nacionais de recrutamento especializadas em cruzeiros são a ISMBR, a Portside, a Valemar, a Rosa dos Ventos, a Ceceth e a Infinity Brazil, e basta acessar os respectivos sites para conferir as vagas. Se quiser ver diretamente nas companhias marítimas, a maioria dispõe de áreas específicas com oportunidades de carreira, entretanto, o conteúdo é em inglês.
O Grupo Royal Caribbean, que inclui Celebrity Cruises, Royal Caribbean, TUI Cruises e Silversea, tem uma página para divulgar vagas disponíveis. Clicando na vaga de seu interesse, o candidato cadastra seu email e recebe acesso a uma página de cadastro, onde preenche seus dados em 8 temas: dados pessoais, informações de contato, educação, experiência profissional, referências, línguas, habilidades, questões gerais e responde questões específicas sobre a vaga, para finalizar a candidatura.
No Grupo MSC, a página de vagas é bem completa. Tem vídeos com depoimentos dos tripulantes que são embaixadores, apresenta a perspectiva da empresa sobre carreira na MSC, descreve as oportunidades a bordo e nos escritórios, explica o processo de recrutamento e oferece campo para inscrição.
A Costa Cruzeiros possui uma página dedicada a oportunidades de carreira, mas a maioria é direcionada à Itália, por ser uma empresa de origem italiana. Também possui perfis específicos
nas redes sociais sobre carreiras.
Dica Krooze: se você ainda não tem experiência na área de turismo e hotelaria, é preferível candidatar-se somente com as agências. Durante as entrevistas eles irão te auxiliar a encontrar a melhor vaga para o seu perfil e habilidades. Se você já tem alguma noção da área que quer trabalhar, pode contatar diretamente as companhias, que o processo direcionado aos setores pode ser mais efetivo.
Faixas salariais e principais vagas para brasileiros
Perguntamos às empresas de recrutamento quais são as funções mais ocupadas por brasileiros – e suas faixas salariais atuais. Segundo Carolina Coelho Nunes, as áreas que mais empregam brasileiros são bar, restaurante, limpeza e animação, com salário mínimo de 550 dólares mensais e máximo de 4 mil dólares mensais. Companhias como MSC e Costa, que fazem temporada brasileira, sempre são as que mais contratam tripulantes por aqui – isso porque para navegar no litoral do Brasil, a legislação exige uma porcentagem de 30% de tripulação que fale português.
Já Luiz Trindade destaca que as vagas mais ocupadas por brasileiros são para cozinheiros, atendimento no restaurante e bares, além da limpeza – e complementa: “mas tem brasileiros em diversas posições como animação, técnico de som e luz, recepcionistas”. Segundo a Portside, os salários das vagas em aberto variam entre 600 dólares e mil dólares.
Dica Krooze: experiência na área que vai se candidatar conta bastante, então invista seu tempo e energia nisso, mesmo que de forma voluntária. Falar inglês é fundamental, então estude muito. E, se souber outra(s) língua(s), a chance de fazer seu primeiro embarque em uma função melhor e mais bem remunerada aumenta muito.
Em quais áreas você pode trabalhar em um cruzeiro?
O brasileiro Daniel Domas, tripulante da Royal Caribbean, compartilhou com a Krooze sua experiência a bordo e algumas dicas especiais. Em um vídeo postado no seu Instagram, ele explica às pessoas interessadas que, para escolher a área que deseja trabalhar, é preciso visualizar o navio como um grande hotel, com vários departamentos.
O maior departamento do navio é a área de alimentos e bebidas, que inclui equipes de preparo das refeições e drinques – e as equipes que servem as refeições a bordo. Outra grande área é a Governança ou Housekeeping, que cuida da arrumação das cabines e da limpeza de todo navio. Já a área de Revenue é responsável pelas vendas das lojas a bordo, do cassino, do spa e da galeria de fotos.
Daniel diz, ainda, que há uma grande equipe de entretenimento a bordo dos cruzeiros, da qual ele faz parte na Royal Caribbean. Sua principal função é programar todas as atividades, eventos e festas juntamente com o diretor de cruzeiros, bem como liderar uma equipe de animadores. “Da equipe de entretenimento também fazem parte recreadores, professores, técnicos de som, luz e áudio, além dos artistas que atuam nos shows de teatro e dança. Esse time é responsável por toda a diversão a bordo, incluindo animação adulta, animação infantil, atividades esportivas e recreativas”, resume.
O navio também oferece oportunidades nas áreas administrativa, financeira e RH e na recepção. Além do departamento de hotelaria, existe a importante área da marinha, que é comandada pelo capitão ou pela capitã do navio e suas equipes técnicas, responsáveis por toda a operação de navegação do navio.
Caso não tenha experiência prévia, os interessados podem iniciar a carreira como entregador de comida nas cabines ou como assistente, por exemplo. E ao ganhar mais experiência de como funcionam as operações do navio, migrar para outras funções.
Dicas para quem quer trabalhar em cruzeiros
Para quem quer seguir em frente, ficam as dicas dos especialistas!
Carolina Coelho Nunes, CEO da ISMBR: “Aproveite as oportunidades e, quem não tem inglês, deve procurar um curso e depois realizar seu cadastro no nosso site. As vagas são oferecidas durante todo o ano.”
Luiz Trindade, CEO da Portside: “Acredito que o primeiro passo para tomar a decisão seja uma autoavaliação de prós e contras. Não se deve tomar uma decisão baseado no amigo que gostou ou por quem posta vídeos lindos, que conheceu muitos lugares.”
Daniel Dornas, tripulante da Royal Caribbean: “Para seguir uma carreira de sucesso, o tripulante deve ser aberto a mudanças o tempo todo. O fato do navio ser um grande hotel flutuante faz com que não haja rotina. Uma semana nunca é igual a outra. Um dia nunca é igual a outro. O convívio com pessoas de mais de 60 países faz com que você aprenda muito sobre cultura, raças, religiões, identidade de gênero e muito mais. Saber conviver bem com todas elas é um passo gigante para o sucesso a bordo.”