Tecnologia avança, emissões despencam e a indústria marítima acelera rumo a operações mais limpas e eficientes
Por Aline Andrade
Publicado às 8h30
A transição de elétricos chegou ao mar. Depois de anos avançando lentamente, a eletrificação desponta como a principal aposta para reduzir emissões no transporte marítimo, incluindo os cruzeiros. A tendência ganhou força conforme motores elétricos passaram a exigir menos manutenção, oferecer maior eficiência e representar custos operacionais menores a longo prazo, mesmo em países com eletricidade relativamente cara. Mais do que uma mudança tecnológica, trata-se de uma nova lógica para a indústria naval, que busca unir segurança, economia e sustentabilidade em um único modelo de operação.
O uso de baterias em navios elétricos já é realidade em diversos países, especialmente na Noruega, onde políticas públicas e incentivos financeiros aceleraram a adoção da tecnologia. Hoje, o país é referência mundial em navegação limpa, com balsas, cargueiros, barcos de pesca e embarcações offshore operando total ou parcialmente com eletricidade. A presença crescente de motores elétricos nessas rotas costeiras demonstra não apenas eficiência, mas também o impacto direto na redução de gases de efeito estufa, especialmente em áreas ambientalmente sensíveis, como os fiordes noruegueses.
Cruzeiros elétricos: expansão global
A expansão global também já está em curso. Segundo estimativas do setor, mais de mil embarcações no mundo utilizam propulsão elétrica ou híbrida, número que deve aumentar significativamente nos próximos anos graças às centenas de unidades atualmente em construção. Para os navios de cruzeiro, a tecnologia representa um avanço crucial: operar com energia elétrica, enquanto atracados, permite desligar motores convencionais e reduzir drasticamente emissões e ruídos nos portos. A demanda energética é imensa, equivalente ao consumo de milhares de residências, mas, quando abastecida por fontes renováveis, transforma-se em uma solução de grande impacto ambiental.

Infraestrutura portuária
Para que essa revolução avance, a infraestrutura portuária precisará acompanhar o ritmo. Instalar conexões de alta potência, atualizar redes elétricas, criar sistemas de carregamento e desenvolver baterias de grande capacidade são desafios que exigem investimento público e privado. A Europa, por exemplo, vem acelerando normas e apoios financeiros para ampliar o “onshore power supply”, a energia fornecida diretamente da rede para grandes navios atracados. Embora necessário, o processo envolve custos expressivos e a construção de novos transformadores, cabos e centros de distribuição.

Do ponto de vista operacional, a eletrificação já se mostra competitiva, sobretudo em rotas mais curtas. Navios movidos a bateria apresentam eficiência energética muito superior em relação a alternativas líquidas como amônia, metanol ou hidrogênio, que demandam quantidades muito maiores de energia inicial para serem produzidas. Isso torna o motor elétrico não apenas uma solução ambiental, mas também econômica, um argumento decisivo para companhias de cruzeiro que buscam reduzir emissões sem elevar custos.
O futuro aponta para embarcações cada vez mais limpas, silenciosas e tecnologicamente sofisticadas. As companhias de cruzeiro já investem em protótipos híbridos, baterias de última geração e sistemas capazes de recarregar diretamente a partir de energia eólica e solar. A era dos cruzeiros elétricos não é apenas uma perspectiva, é um processo em andamento que deve transformar toda a indústria marítima. Em um setor historicamente associado a altos níveis de emissões, a eletrificação surge como o caminho mais promissor para um turismo marítimo mais responsável, eficiente e alinhado às metas globais de descarbonização.
Navios elétricos x navios convencionais
Do ponto de vista ambiental, a distância entre as duas tecnologias é evidente. Navios a diesel emitem grandes quantidades de CO₂, óxidos de nitrogênio e enxofre, contribuindo para a poluição do ar e para a degradação de ecossistemas costeiros. Os navios elétricos, por outro lado, eliminam emissões diretas de gases de efeito estufa e evitam riscos como vazamentos de combustível e contaminação da água durante o abastecimento. Quando recarregados com energia renovável, tornam-se uma solução de quase zero impacto ambiental, especialmente relevante em áreas sensíveis, como fiordes e reservas naturais.
Hurtigruten
Em meio à corrida global por soluções que reduzam as emissões de carbono no transporte marítimo, a Hurtigruten avança rumo a um marco histórico: o lançamento de seu primeiro navio totalmente elétrico. A embarcação, que promete ser “a mais eficiente energeticamente do mundo”, tem estreia prevista para 2030 e representa um passo decisivo na estratégia de descarbonização da companhia. Os primeiros detalhes do conceito foram apresentados em junho, reforçando o pioneirismo norueguês em navegação sustentável.
O projeto, batizado de Sea Zero, prevê um navio equipado com um sistema de baterias de 60 MWh, capacidade considerada inédita no setor. Essa tecnologia permitirá uma autonomia estimada entre 300 e 350 milhas náuticas (cerca de 555 a 648 quilômetros), o que garante longos trechos de navegação sem emissões diretas. Em viagens de 11 noites, a expectativa é que o navio realize entre sete e oito recargas, aproveitando a infraestrutura elétrica de portos noruegueses, que já estão entre os mais avançados do mundo no fornecimento de energia para embarcações.
MSC Cruzeiros: Conectividade Shore Power
A MSC Cruzeiros vem se posicionando na adoção do shore power, tecnologia que permite aos navios se conectarem à rede elétrica em terra enquanto estão atracados. Atualmente, a companhia conta com 18 navios preparados para operar com energia terrestre, uma medida estratégica que reduz emissões, diminui ruídos e contribui diretamente para a descarbonização das operações portuárias.
Entre os destaques, o MSC World Europa já utiliza o sistema em Valetta, Malta, enquanto o MSC Seaview e o MSC Poesia concluíram testes bem-sucedidos em portos da Itália e da França. Nos Estados Unidos, o MSC Meraviglia realizou sua primeira conexão em Nova York, reforçando o avanço da tecnologia em regiões de grande fluxo marítimo. A expansão dessa infraestrutura está se tornando cada vez mais comum em terminais ao redor do mundo, impulsionada pela necessidade de enfrentar um desafio ambiental global.
Um marco importante da companhia ocorreu em junho de 2023: o MSC Euribia realizou o primeiro cruzeiro de emissões líquidas zero do mundo em sua viagem inaugural, entre Saint-Nazaire, na França, e Copenhague, na Dinamarca. O feito simboliza não apenas a evolução da MSC Cruzeiros, mas também o caminho que a indústria como um todo começa a trilhar rumo a operações mais limpas e sustentáveis.
Acesse nosso grupo de WhatsApp e siga nosso Instagram e LinkedIn para ficar por dentro de tudo sobre o mundo dos cruzeiros!