Iniciativa pioneira Cruising4Oceans coleta dados ambientais em áreas remotas, engaja hóspedes em atividades científicas e mais
Por Aline Andrade
Publicado às 9h50
A bordo dos elegantes navios da Swan Hellenic, ciência e turismo navegam lado a lado em regiões isoladas do planeta. O responsável por unir esses dois mundos é o engenheiro naval Mario Dogliani, italiano, com quase quatro décadas de experiência no setor marítimo. Fundador da SDG4MED — uma fundação dedicada ao desenvolvimento sustentável no Mediterrâneo — Dogliani viu na revitalização da Swan Hellenic uma oportunidade única de promover a ciência no mar.
A relação profissional e de amizade com Andrea Zito, CEO da companhia e colega de faculdade, foi o ponto de partida para a criação da iniciativa Cruising4Oceans. Em parceria com a Missão Oceano da União Europeia, o projeto transforma os navios da companhia em “ships of opportunity”, ou seja, embarcações que, mesmo sem ser científicas, coletam dados valiosos durante suas rotas regulares, muitas vezes por áreas inexploradas por pesquisadores. A Swan Hellenic foi a primeira empresa de cruzeiros do mundo a aderir formalmente à missão, em 2022.
Port Lockroy (Antártida, fevereiro de 2025)
Fragmento mineral ou microplástico
Swan Hellenic: rotina científica entre icebergs e zodiacs
Dogliani embarca frequentemente nos cruzeiros de expedição da Swan Hellenic, como o SH Vega, para acompanhar de perto as coletas e ministrar palestras. Sua rotina a bordo se adapta à programação dos hóspedes: aproveita os momentos em que eles estão nos zodiac, por exemplo, para colher amostras de água e registrar parâmetros físicos como temperatura e salinidade. Paralelamente, dados como pressão atmosférica e velocidade dos ventos são coletados eletronicamente a partir da ponte de comando.
Apesar de não exigir um laboratório avançado, o trabalho tem valor inestimável. “A maioria das áreas onde operamos não é rotineiramente visitada por oceanógrafos. Oferecemos a oportunidade de coletar dados que, de outro modo, não existiriam”, afirma. E mais: os navios da Swan Hellenic foram equipados com um laboratório modesto, porém funcional, com microscópio, bancadas, telas e conexão via satélite. O suficiente para uma pré-análise a bordo e envio imediato dos dados para validação em terra.
Do turismo à ciência: o papel dos hóspedes
Uma das grandes inovações do projeto é o engajamento dos próprios hóspedes. A partir da temporada 2025/2026, o Cruising4Oceans ampliará sua dimensão de ciência cidadã com atividades como:
- Coleta de eDNA (DNA ambiental) — material genético presente na água, usado para rastrear espécies, monitorar biodiversidade e detectar organismos invasores;
- Medição de temperatura da água com sensores portáteis que transmitem os dados diretamente para smartphones;
- Registro de imagens georreferenciadas da fauna e flora, inclusive de resíduos plásticos, por meio de aplicativos adaptados que os hóspedes poderão instalar em seus celulares.
Aplicativo adaptado de Ciência Cidadã
Imagens e informações armazenadas, durante o cruzeiro, no repositório de nuvem dedicado, acessível ao scientists board
“Não se espera que os hóspedes sejam cientistas. Se tiverem curiosidade e interesse pela natureza, já é o suficiente para contribuir. Eles atuam como sensores humanos, ajudando a expandir a base de conhecimento dos pesquisadores”, explica Dogliani. Durante as palestras noturnas, sempre curtas e adaptadas à rota do cruzeiro, ele apresenta análises preliminares e estimula a curiosidade dos viajantes com descobertas microscópicas encontradas nas águas recém-coletadas.
Ciência ao alcance de todos — e de todos os mares
A iniciativa da Swan Hellenic vai além da coleta pontual de dados. Segundo Dogliani, o potencial dos “ships of opportunity” está em criar uma rede contínua de sensores móveis, navegando em rotas regulares e permitindo a construção de séries históricas de dados oceânicos. É exatamente esse o objetivo da União Europeia com a Digital Twin Ocean (DTO) — uma réplica virtual dos mares baseada em dados em tempo real. Os dados coletados pelos navios da Swan Hellenic, após verificação de qualidade, já estão integrados ao banco de dados da EMODnet, o principal repositório europeu de informações marinhas.
Como embaixador do Pacto Climático Europeu, Dogliani vê na iniciativa um exemplo de como o turismo de expedição pode servir ao planeta: “Os oceanos ainda são muito desconhecidos. Precisamos de mais olhos, sensores e cidadãos atentos. Com iniciativas assim, mostramos que é possível contribuir mesmo sem ser cientista — e sem abrir mão de uma viagem inesquecível.”
Além de desfrutar de paisagens impressionantes, observar a fauna única de regiões remotas e vivenciar o conforto e a sofisticação dos navios da Swan Hellenic, o hóspede tem a rara oportunidade de participar ativamente de uma jornada de transformação e descoberta em prol do planeta. Ao se engajar nas atividades de ciência cidadã promovidas a bordo — como a coleta de dados ambientais, o registro de espécies e o monitoramento da qualidade da água —, cada viajante torna-se parte de um movimento global de proteção aos oceanos. É uma forma singular de viajar: com propósito, consciência e o privilégio de contribuir para o conhecimento e preservação do meio ambiente, enquanto se vive uma experiência inesquecível.
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