Como funcionam os contratos e seleções, qual o investimento necessário e como pode é a vida a bordo
Como trabalhar em navios de cruzeiros? Essa é a pergunta de muitos brasileiros em busca de uma experiência internacional ou que desejam construir uma carreira no segmento. Algumas vantagens fazem os olhos brilhar, como salário em dólar e livre de descontos, moradia e alimentação gratuitas, atendimento médico incluído e a possibilidade de conhecer vários destinos mundo afora. Entretanto, há outros fatores importantes a serem levados em consideração antes de buscar uma vaga, como o investimento necessário, o perfil dos trabalhadores e características da vida a bordo.
1. Como funciona o contrato de trabalho
Os tripulantes são contratados diretamente pelas companhias, via um contrato internacional de trabalho que tem um tempo determinado – em média entre 6 e 9 meses de duração. As normas que regem os contratos são determinadas pela convenção do trabalho marítimo de 2006 (Maritime Labour Convention 2006), e regulamentadas pelo International Labour Organization (ILO), portanto, não estão vinculados às leis de trabalho brasileiras. Isso inclui não contar com o tempo de contribuição para a previdência – ou seja, tempo de serviço para a aposentadoria. Como não existe desconto de impostos no rendimento, a maioria dos tripulantes contribui individualmente para o governo durante sua carreira para facilitar o processo de aposentadoria mais tarde.
Existem regras gerais como, por exemplo, a obrigação da companhia marítima em repatriar o tripulante (até o seu país de origem), após o fim do contrato. Enquanto embarcado, o tripulante também não tem custos com alimentação, moradia e saúde. Caso seja necessário tratamento médico fora do navio, o tripulante será desembarcado e terá assistência com as despesas médico-hospitalares.
Com exceção de algumas funções mais técnicas (como engenheiros ou médicos por exemplo), não é necessário um diploma de curso superior para trabalhar em um navio – o pré-requisito, em qualquer função, é saber se comunicar em inglês, que é o idioma oficial dentro dos navios, inclusive para os treinamentos de segurança.
São exigidos dois cursos específicos para trabalhar a bordo: o Seafares’s of Training, Certification and Watchkeeping (STCW), e o Curso de Familiarização de Proteção de Navio (CFPN), ambos com validade de cinco anos.
Ao terminar o contrato, o tripulante volta ao seu país de origem e entra em um esquema de rotação de vagas, esperando para ser chamado novamente (em torno de 3 a 4 meses). Importante ressaltar que esse período não é considerado férias, portanto ele não recebe nenhum valor da companhia de cruzeiro.
2. O perfil do candidato
Os profissionais de cruzeiros relatam que a rotina é fisicamente puxada, envolve em torno de 10 horas de trabalho diárias, sete dias por semana (não existe dia de folga, ao longo de um contrato), distância da família e amigos por longos períodos e a convivência com hábitos culturais completamente diferentes dos nossos. Mas, apesar de desafiadora, também relatam que não trocariam essa carreira por outra.
Nesse sentido, as principais características pessoais para trabalhar a bordo devem ser flexibilidade, entusiasmo e vontade para trabalhar duro. Uma característica dos tripulantes brasileiros é muito valorizada: a simpatia característica do nosso povo. Por isso, vale abusar do sorriso e da receptividade ao se candidatar a uma vaga.
3. Como é o processo de seleção para trabalho em navios
Há duas maneiras de se candidatar às vagas em cruzeiros: recorrer às agências de recrutamento ou consultar diretamente as companhias marítimas. A vantagem da empresa de RH é a assessoria prestada durante o processo de seleção, enquanto ao candidatar-se diretamente na companhia, o candidato deverá ter mais autonomia em inglês para preencher os formulários dos sites.
As companhias marítimas globais são parceiras de agências de recrutamento especializadas em cruzeiros, localizadas em diversos países, inclusive no Brasil. Essas empresas divulgam as vagas disponíveis, recebem os currículos e analisam o perfil dos candidatos. Depois de uma seleção prévia e entrevistas realizadas em português e inglês, as agências encaminham os brasileiros para entrevistas em inglês, pela empresa contratante.
O processo de contratação dura cerca de 3 meses, entretanto, mesmo após a aprovação, a companhia marítima poderá levar até 12 meses para embarcar o novo tripulante. Para trabalhar a bordo, é necessário ter mais de 18 anos (para companhias dos Estados Unidos a idade mínima é 21 anos) e não há limite máximo de idade, desde que a pessoa esteja saudável. Outros requisitos são atestado de boas condições de saúde física e mental; certificado de ensino médio completo; os cursos de formação e passaporte válido (com visto para tripulante caso o contrato preveja passagem por portos que exigem).
O candidato não terá custos com a agência de recrutamento, que é remunerada pelas contratantes. Entretanto, é importante ter em mente que a maioria das companhias não cobrem os custos com os cursos, exames médicos, passaporte e vistos – e, quando o fazem, o reembolso é feito a bordo, então é preciso ter esse valor para investir antes de começar a trabalhar.
As principais empresas nacionais de recrutamento especializadas em cruzeiros são a ISMBR, a Portside, a Valemar, a Rosa dos Ventos, a Ceceth e a Infinity Brazil, e basta acessar os respectivos sites para conferir as vagas. Se quiser ver diretamente nas companhias marítimas, a maioria dispõe de áreas específicas com oportunidades de carreira, entretanto, o conteúdo é em inglês.
4. Áreas de atuação e salários em navios
Para consultar e escolher a área que deseja trabalhar, é preciso visualizar o navio como um grande hotel, com vários departamentos. O maior departamento do navio é a área de alimentos e bebidas, que inclui equipes de preparo das refeições e drinques – e as equipes que servem as refeições a bordo. Outra grande área é a Governança ou Housekeeping, que cuida da arrumação das cabines e da limpeza de todo navio. Já a área de Revenue é responsável pelas vendas das lojas a bordo, do cassino, do spa e da galeria de fotos.
Há, ainda, uma grande equipe de entretenimento a bordo dos cruzeiros, cuja principal função é planejar e executar todas as atividades, eventos e festas a bordo. Isso inclui recreadores, professores, técnicos de som, luz e áudio, além dos artistas que atuam nos shows de teatro e dança, e o time que realiza atividades diretamente com os hóspedes, como animação adulta, animação infantil, atividades esportivas e recreativas.
O navio também oferece oportunidades nas áreas administrativa, financeira e RH e na recepção. Além do departamento de hotelaria, existe a importante área da marinha, que é comandada pelo capitão ou pela capitã do navio e suas equipes técnicas, responsáveis por toda a operação de navegação do navio.
Os ganhos mensais partem de US$ 550 até US$ 4 mil, dependendo do trabalho, setor e qualificação do profissional. Algumas funções com salários mais baixos, como camareiros, costumam receber gorjetas que, muitas vezes, chegam a dobrar os ganhos mensais.
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