Como a tecnologia está ajudando as companhias de cruzeiro a reduzir o ruído dentro do mar e, com isso, preservar o ecossistema marinho
Por Luísa Medeiros
Hoje é celebrado o Dia Mundial dos Oceanos, quando os olhares se voltam para a preservação do mar e de seu ecossistema. Quando pensamos no mundo dos cruzeiros, é inevitável olharmos com atenção para a vida marinha e nos impactos que a navegação gera. Fala-se muito sobre desafios como as reduções de emissões de gás carbônico, filtragem de água de dejetos, reciclagem de lixo, diminuição do uso de plásticos e educação ambiental como parte dos programas de cruzeiro. E, de fato, as companhias têm investido fortemente para atingir níveis mínimos de impacto ambiental, com excelentes resultados.
Mas, você sabia que existe, também, um olhar atento ao ruído gerado pelos cruzeiros no mar e o quanto ele impacta no ecossistema marinho? Para marcar esse dia tão importante para marinheiros de todos os tipos, que tal conhecer um pouco mais as tecnologias e iniciativas que estão por trás da redução de ruídos subaquáticos e a preservação do meio ambiente? A Krooze te convida a entrar em modo silencioso e navegar nesse tema!
Impacto dos ruídos na vida marinha
Ao se deslocar pelos mares, os navios geram ruídos que podem interferir na vida marinha. A intensidade desses ruídos depende de vários fatores como tamanho e formato do navio, velocidade de navegação, potência dos motores e profundidade da hélice, por exemplo. Porém, é importante entender que nem sempre esses ruídos geram danos ao meio ambiente – e que existem formas seguras de navegar.
De acordo com o site Discovery of Sound in the Sea (DOSITS), capitaneado por cientistas da Graduate School of Oceanography (GSO) da Universidade de Rhode Island, os sistemas de propulsão dos navios, bem como a cavitação que ocorre nas pás das hélices, são os fatores mais relevantes a serem observados. De acordo com o site, “a cavitação ocorre quando as lâminas rotativas fazem com que a pressão local na água caia abaixo de um valor crítico e se formem bolhas”. Além disso, vale ressaltar que o fluxo de água que passa pelo casco do navio também gera ruído que deve ser observado com cuidado.
Quando não são realizadas ações de prevenção, os ruídos podem afetar a vida de animais marinhos de diversas maneiras – e até mesmo desequilibrar o ecossistema. Por exemplo: “os impactos potenciais podem incluir sons que fazem com que os animais marinhos alterem o seu comportamento, impedindo que ouçam sons importantes ou causem perda auditiva” (fonte: site DOSITS). Assim, pode-se observar que esses ruídos podem causar encalhe de animais desorientados; stress; bem como mudança de comportamento que os levam, por exemplo, para longe de um local de alimentação ou reprodução, de acordo com os cientistas.
Redução de ruídos: tecnologia em prol dos oceanos
Vida marinha pode ser preservada com menos ruído | Foto: Phoebe Dill/Unsplash Cruzeiros podem ajudar a preservar a vida marinha | Foto: Joseph Barrientos/Unsplash
Já vimos que é necessário um olhar atento aos ruídos gerados por navios de cruzeiros. Mas, a boa notícia, é que já existe uma série de soluções para minimizar o impacto. As ações vão desde a construção dos navios, passando pela manutenção constante e, também, pelas adaptações de processos operacionais durante a navegação.
Importantes associações internacionais ligadas à atividade marítima, como a IMO (Organização Marítima Internacional) e a European Union Marine Strategy Framework Directive, já publicaram documentos com sugestões para reduzir o ruído, especialmente na fase de construção das embarcações.
Caminhos possíveis para a preservação
Alterações simples nos projetos de hélices (especialmente inclinação, diâmetro e quantidade); bem como o formato do casco, para que ele deslize de maneira mais suave, podem ser decisivos para reduzir os ruídos e manter o ecossistema em equilíbrio. A localização correta de maquinário dentro do casco, bem como o material utilizado e a inclusão de sistemas de isolamento acústico também podem reduzir drasticamente o barulho e a vibração gerados.
Na esfera de manutenção, os documentos indicam que é fundamental manter as hélices e a superfície do casco limpas, sem incrustações marinhas e rugosidades, para reduzir a cavitação e a resistência do navio à água. A disponibilização de energia em terra, para que os navios possam desligar seus motores quando estiverem atracados nos portos, também reduz muito o ruído próximo às costas.
E, por fim, há recomendações de modificações operacionais que podem ajudar a reduzir a produção de ruídos. Entre elas estão a redução de velocidade e ajuste de rotas de navegação, especialmente em áreas sensíveis, onde há grande diversidade de vida marítima.
Você sabia?
Cientistas, engenheiros e ambientalistas estão trabalhando em conjunto para criar “mapas de ruídos” em áreas sensíveis. É o caso do Parque Nacional Glacier Bay, no Alasca. Os pesquisadores estimaram a exposição acústica das baleias jubartes ao ruído dos navios em uma variedade de cenários. Descobriram, então, que os cruzeiros que viajam mais devagar produzem ondas sonoras menos nocivas aos animais. Portanto, em vez de diminuir o número permitido de navios de cruzeiro na Baía Glacier, ou sincronizar o momento das suas chegadas, os cientistas sugeriram que reduzir as velocidades dos navios de cruzeiro oferecia a redução de potencial impacto sobre as baleias jubarte.
Ações das companhias de cruzeiro para redução de ruídos
As principais companhias de cruzeiro estão comprometidas com as recomendações da IMO para adaptação de seus projetos de engenharia e seus processos operacionais para reduzir os ruídos gerados no mar. Veja, então, alguns exemplos:
- A Costa Cruzeiros afirma que também está investindo para equipar seus navios para utilização de energia em terra, já disponível em 30% da frota. Além disso, cita ações como a instalação de sistemas de lubrificação de ar no casco, reduzindo a resistência da água e, consequentemente, o ruído e a vibração que pode prejudicar a vida marinha.
- O Grupo Carnival (que inclui as companhias AIDA Cruises, Carnival Cruise Line, Costa Cruises, Cunard, Holland America Line, P&O Cruises, Princess Cruises e Seabourn) reduziu o prazo de suas metas de sustentabilidade para 2024. Entre as ações, estão a otimização dos projetos de casco e adoção de revestimentos especiais para minimizar a resistência da água; ajuste da hidrodinâmica no uso de correntes oceânicas e técnicas como roteamento climático para redução de velocidade sempre que possível; possibilidade de uso de energia em terra em 60% dos navios do grupo; bem como a instalação de sistemas de lubrificação a ar para ajudar no deslizamento, formando uma bolha de ar e reduzindo o atrito com a água.
- O Grupo NCL (que inclui as companhias Norwegian Cruise Line, Oceania Cruises e Regent Seven Seas Cruises), faz o monitoramento de emissões sonoras submarinas em seis navios da marca. Desses, quatro receberam a notação ambiental de classe SILENT-E, por demonstrarem emissão de ruído controlada. Além disso, revestiu com silicone de baixo atrito o casco de 100% da frota, diminuindo a resistência da água. O grupo está testando, também, um revestimento antivegetativo sem biocidas nas hélices do navio Regent Seven Seas Explorer que, se comprovada eficiência, pode ser utilizada no restante da frota.
- O Grupo Scenic garantiu, em seu Relatório de Impacto de 2023, que investe em design avançado de navios para proteger o fundo do mar; bem como sistemas progressivos de tratamento para eliminar espécies invasoras e manter o casco e hélices sem atrito.
- A MSC Cruzeiros colocou como prioridade de suas ações de sustentabilidade a adoção de tecnologia para conexão com energia em terra, para poder desligar os motores e reduzindo níveis de ruído e vibração. Atualmente, mais da metade da frota já está apta a adotar essa medida.